3. Avaliação – metodologia
A avaliação e sua prática, na escola pesquisada, é tida às vezes, como um fim para verificar se o aluno está capacitado a atender determinadas exigências das disciplinas. Percebemos que às vezes os professores não se preocupam em inovar, criar mesmo, pois as provas são elaboradas com base em vestibulares já transcorridos, com o objetivo de observar se o aluno está apto ou não a responder as questões não só do vestibular, mas também o "provão" do enem, e outros meios que usam para medir o conhecimento do aluno. do corpo docente da escola elegemos três professores por serem representativos da postura do grupo que trabalha nos três turnos de ensino naquele estabelecimento, seja por trabalharem tanto num como noutro período ou também porque os demais professores os procuram para serem auxiliados nas suas atividades. Denominamos cada um, por uma questão de sigilo, de professora "a", professor "b" e professora "c". um caso interessante que observamos é que a professora denominada por nós de "a", com graduação em letras e pós-graduação (especialização) em "planejamento de ensino", tira xerox dos exercícios e os recorta, colando os recortes numa folha em branco, numa ordem própria, pois os exercícios do livro têm questões com conteúdos não trabalhados por ela (currículo inútil) e que não devem aparecer na prova. Na curiosidade, passamos a observar outras professoras e professores e notamos que esta é uma prática comum não só nesta escola, mas nas outras também. o professor "b", graduado em ciências biológicas, usa critérios parecidos bem como provas já utilizadas em anos anteriores, pelas datas constantes nas provas que estavam sendo aplicadas. Também é uma prática bem comum nas escolas da rede pública, visto que o(a) professor(a) muitas vezes, pela carga horária muito extensa, não tem tempo para planejar suas aulas e mesmo as provas que vai aplicar. a professora "c" também graduada em letras e pós-graduação (especialização) em "planejamento de ensino" usa métodos estranhos para aplicar suas avaliações, uma vez que não possui critérios ou bases pedagógicos para isto. observamos ainda que muitos professores não têm capacidade de redigir textos ou mesmo elaborar provas por falta de costume mesmo. Fazem boas análises das redações de seus alunos, criticam às vezes, com grande severidade, mas quando são colocados diante da necessidade de escrever, de redigir um texto, fracassam, pela falta do exercício, da prática redacional. O ato de preparar as aulas, quando dizemos que inexistem por falta de tempo, estamos sendo um pouco generosos, pois o que ocorre na realidade, é esta inaptidão para lidar com o texto, com o ineditismo da produção escrita. A avaliação é um processo presente em todos os aspectos da vida escolar. Para mediano (1.988), professores avaliam alunos, alunos avaliam professores, diretor avalia seus professores e estes o diretor, pais avaliam professores e escola. A autora alerta que parece valer somente a avaliação do aluno pelo professor. Outras avaliações em que os avaliados se tornam avaliadores não têm tido o devido valor. desta forma, "a avaliação é definida como um juízo de valor sobre dados relevantes, objetivando uma tomada de decisão". (luckesi: 1.978, citado por mediano:1.988). Por outro lado, mas na mesma linha, veiga (s/d), afirma que "se a aprendizagem é vista como o resultado do processo de ensino, consequentemente, a avaliação é parte integrante desse processo. A vinculação da avaliação com a atual organização do trabalho pedagógico significa concebê-la como um dos elementos constitutivos do processo de ensino fundamentado na lógica do controle técnico e da fragmentação. Nesse sentido, ela é um poderoso instrumento nas mãos do professor para selecionar, rotular, classificar e controlar". alertas têm sido feitos pelos diversos autores educacionais quanto ao uso da avaliação como instrumento coercitivo, para consecução da disciplina em sala de aula. A avaliação não pode se prestar a esse tipo de serviço (aliás, desserviço), porque é um instrumento – se assim a podemos chamar – que contribui para o conhecimento do nosso aluno real. Por outro lado, quando não utilizada com esses fins espúrios, ditatoriais, ela é utilizada para dar notas ou conceitos, retirando sua importância, pois ela deve ser, como já disse, um instrumento que possa encaminhar tanto o educando como o educador rumo ao saber realmente constituído, não servindo de arma para eliminar aqueles não conseguem adquirir o conhecimento logo nos primeiros momentos. concordamos com mediano (1.988), quando diz que "pretender que o professor seja um técnico em medidas educacionais, é exigir que ele seja competente na construção de instrumentos que meçam com confiança e validade todos os objetivos que visa alcançar".desta forma poderemos obter dados relevantes para a análise da educação praticada nas nossas escolas. desta forma, para entendermos a avaliação ao longo do processo educacional, é preciso conhecer sua história, seu desenvolvimento e os métodos criados no tempo e no espaço pelos mais renomados educadores e teóricos da educação. Olhar o passado e ver como a avaliação era realizada é uma forma de não avaliarmos para a exclusão hoje. Sim, porque no horizonte do passado, só participavam da avaliação ou exame aqueles alunos que realmente estivessem preparados, caso contrário, eram descartados e acabavam não ingressando em séries mais avançadas. Depresbiteris (1.997), nos conta que o uso da avaliação como medida vem de longa data: já em 2.205 a.c. O grande shun, imperador chinês, examinava seus oficiais com o fim de os promover ou demitir. Garcia (1.999), também diz que a primeira notícia que temos de exames (avaliação) nos é trazida por weber , quando se refere ao uso pela burocracia chinesa nos idos de 1.200 a.c., Para selecionar, entre sujeitos do sexo masculino, aqueles que seriam admitidos no serviço público. o exame ou avaliação passou a ser uma necessidade nos meios educacionais para conter o grande avança das classes populares no sentido de conquistar espaços sociais. Desta forma, o saber, a cultura e o conhecimento continuariam sendo uma prerrogativa daqueles que detinham o poder político e econômico, excluindo a massa, os trabalhadores, a plebe dos meios acadêmicos, surgindo educadores como comenius, para o qual a avaliação era um lugar de aprendizagem e não de verificação de aprendizagem; la salle, por sua vez, propôs o exame como supervisão permanente. Comenius centra o exame como um auxiliar na correção da metodologia, na prática docente mais adequada ao aluno. La salle, por sua vez, centra no aluno e no exame o que deveria ser resultado da prática pedagógica, um complexo processo em que dois sujeitos interagem: um que ensina e outro que aprende. Souza, diz que desde o início do século tem-se, de modo sistematizado, a realização de estudos sobre avaliação da aprendizagem, voltada particularmente para a mensuração de mudanças do comportamento humano. Com robert thorndike, ganharam relevância os testes e medidas educacionais, movimento que prosperou nos estados unidos nas duas primeiras décadas do século xx, resultando no desenvolvimento de testes padronizados para medir habilidades e aptidões dos alunos. o sistema de avaliação instituído no brasil, melhor dizendo, impostos, acompanha o proposto por la salle, ainda que talvez disso não tenham consciência os que o formulam, desde as primeiras séries do ensino fundamental até a pós-graduação. seguindo esses caminhos, encontramos em luckesi, citado por sátiro, (s/d), que a história da avaliação no brasil obedece a três fases: Fase 1 – a partir do século xvi, num sistema tradicional instituído pelos jesuítas, de testes para promover ou reprovar os alunos. Fase 2 – início do século xx, com a escola nova, que pretende construir uma disciplina interna livre e autônoma, levando em consideração o desenvolvimento afetivo e emocional dos alunos. Fase 3 – a partir dos anos 60, com a teoria comportamentalista, que propõe a avaliação como meio, para que os alunos criem seu próprio comportamento e se disciplinem mentalmente. Para tanto, utilizam muitos recursos técnicos. não é preciso grande esforço para perceber que no brasil, apesar de todos os esforços em contrário, apesar da ldb, apesar dos educadores e parcela da sociedade, ainda predomina a proposta tradicional dos jesuítas, em que a avaliação ainda é vivida nas escolas, como algo para promover ou reprovar os alunos, que continuam sendo medidos e pesados, crivados e peneirados por aqueles que estabelecem os critérios que devem ser alcançados no final do processo de ensinagem. neste sentido, afirma-se que a prática da avaliação da aprendizagem no brasil é a que mais tem resistido às mudanças, talvez porque tanto educadores, como diretores, coordenadores e outras autoridades educacionais tenham medo de perder o poder que quando não entedia, castra ou mata, tamanha é a monotonia. Assim, tradicionalmente, a avaliação é tida como o momento em que culminam todas as ações de um período de ensino, seja uma semana de aulas, uma quinzena, um mês ou um bimestre. Aquele momento é o desfecho daquelas ações executadas, bem ou mal num tempo determinado, sob diferentes tipos – diagnóstica, formativa, somativa ou classificatória.
Diferentes tipos de avaliação Quando se fala em avaliação do processo ensino-aprendizagem, estamos nos referendo à verificação do nível de aprendizagem dos alunos, isto é, o que os alunos aprenderam. Basicamente, a avaliação apresenta três funções: diagnosticar, controlar e classificar, com as quais se relacionam outras três modalidades de avaliação:
- Avaliação diagnóstica – que é aquela realizada no início de um curso, período letivo ou unidade de ensino, com a intenção de constatar se os alunos apresentam ou não o domínio dos pré-requisitos necessários, isto é, se possuem os conhecimentos e habilidades imprescindíveis para as novas aprendizagens. É também utilizada para caracterizar eventuais problemas de aprendizagem e identificar suas possíveis causas, numa tentativa de saná-los. Permite a mediação que provoca um ir e vir de idéias que transcendem o lugar comum. Idéias que são internalizadas pelos atores que atuam na construção do saber, que podem ousar a serviço.
- Avaliação formativa – com função de controle, é realizada durante todo o decorrer do período letivo, com o intuito de verificar se os alunos estão atingindo os objetivos previstos, isto é, quais os resultados alcançados durante o desenvolvimento das atividades. Portanto, a avaliação formativa visa, fundamentalmente, determinar se o aluno domina gradativa e hierarquicamente cada etapa da instrução, porque antes de prosseguir para uma etapa subsequente de ensino-aprendizagem, os objetivos em questão, de uma ou de outra forma, devem ter seu alcance assegurado. É principalmente através da avaliação formativa que o aluno conhece seus erros e acertos e encontra estímulo para um estudo sistemático. Essa modalidade de avaliação é basicamente orientadora, pois orienta tanto o estudo do aluno como o trabalho do professor. Por isso, a avaliação formativa pode ser utilizada como um recurso de ensaio e como fonte de motivação, tendo efeitos altamente positivos e evitando as tensões que usualmente a avaliação causa.
- Avaliação somativa ou classificatória – realiza-se ao final de um curso, período letivo ou unidade de ensino, e consiste em classificar os alunos de acordo com níveis de aproveitamento previamente estabelecidos, geralmente tendo em vista sua promoção de uma série para outra, ou de um grau para outro. Neste caso, a aprendizagem é confundida com memorização de um conjunto de conteúdos desarticulados, conseguida através de repetição de exercícios sistemáticos de fixação e cópia. É um sistema excludente por excelência. Sendo um instrumento que serve para coação, poder e controle de disciplina.
Podemos dizer que um dos propósitos da avaliação com função diagnóstica é informar o professor sobre o nível de conhecimento e habilidades de seus alunos, antes de iniciar o processo ensino-aprendizagem, para determinar o quanto progrediram depois de um certo tempo. Isto é, qual a bagagem cognitiva que eles estão levando para a série em curso. É através dessa avaliação inicial, com função diagnóstica, que o professor vai determinar quais os conhecimentos e habilidades devem ser retomados, antes de introduzir os conteúdos programáticos específicos da série seguinte. É fato e é condicionante, que tanto educadores, como educandos, escolas, pais e responsáveis esperam ansiosos por este momento. Chegado, mãos trêmulas, pés vacilantes, suores, odores, palidez, todos os sintomas de nervosismo se manifestam neste momento em que parecem um bando de bois sendo encaminhado para o matadouro. Alguns levam nas dobras das calças, saias, vestidos, camisas, meias, sapatos, as famigeradas colas para se desapertarem na hora da dúvida. Outros escrevem trechos da matéria nas mãos que se fecham, ocultando o crime antecipado. Ali podem conter poemas, regras gramaticais, equações matemáticas, equações químicas e físicas. Quer dizer, num pequeno espaço da palma da mão de um estudante cabe todo o conteúdo de um período de ensino. Num pedaço de papel de ínfimas proporções, cabem todas as regras gramaticais ensinadas num período. pensar a avaliação, seu modus operandi, é pensar quão maus têm sido os educadores ao longo do tempo, visto que têm massacrado alunos (gerações inteiras) com provas, testes, exames, seja qual for o nome que dermos a isto, em função de uma aprendizagem que não fica, não se prende no aluno, porque é feita da pressão, do desamor, do não-entender, do não-aprender, do decorar, do colar e tantas outras formas de pressão que existem mundo afora. A avaliação é uma forma de se manter o poder nas mãos do professor, da escola, de direções nem sempre democráticas. Como se dá isto? Professores não conseguem manter a disciplina através do diálogo, da negociação pacífica, do respeito, usam dos poderes da avaliação para fazer calar aplicando provas-surpresa a seus alunos, com a finalidade de puni-los por seu comportamento. A questão das relações interpessoais que envolvem principalmente professores e alunos não podem ser colocadas neste sentido – castigo se não se calam, se não se aquietam, se incomodam com barulhos, inquietação, etc. É preciso que haja entre alunos e professores respeito mútuo. Para se alcançar isto, necessário se faz o desenvolvimento de habilidades e competências (páginas 18, 19, 20 e 21 deste texto), tão recomendadas pelos sistemas de ensino ao longo do nosso processo histórico. Assim, soares (1981, p. 47), (in: sousa: 1997), diz que a avaliação "é um dos mais eficazes instrumentos de controle da oferta e do aproveitamento de oportunidades educacionais e sociais e de dissimulação de um processo de seleção em que, sob uma aparente neutralidade e equidade, a alguns são oferecidas sucessivas oportunidades educacionais e, em conseqüência, oportunidades sociais, enquanto a outros essas oportunidades são negadas, processo que se desenvolve segundo critérios que transcendem os fins declarados da avaliação. Segundo esses fins declarados, a avaliação educacional pretende verificar se o estudante alcançou, e em que grau, os objetivos que se propõe o processo de ensino. Implícita e mascaradamente, a avaliação exerce o controle do conhecimento e, dissimuladamente, o controle das hierarquias sociais". avaliar é entender a vasta trajetória percorrida pelo aluno num determinado período, saber como ele chegou a determinadas conclusões, entender seu raciocínio, ajudá-lo, descobrir com ele, dentro da sua realidade, quais são os meios ideais de se calçar uma prática com uma boa teoria e desta novamente ir para a prática, num ir e vir constante, criando caminhos, na tese, na síntese, na antítese e novamente na tese… Com ele, com eles, pois também se renovam a cada ano.
Níveis ou categorias de habilidades cognitivas (por bloom, b. S. & outros. Taxionomia de objetivos educacionais e domínio cognitivo. Porto alegre: globo, 1973, p.16, citado em da silva & albuquerque.
- Conhecimento – envolve a evocação de informações. Nesta categoria estão os conhecimentos de terminologia, de fatos específicos, de critérios, de metodologia, de princípios e generalizações, de teoria e estruturas, etc.
- Compreensão – refere-se ao entendimento de uma mensagem literal contida numa comunicação. Para o nível da compreensão, o aluno não deve somente repetir, mas compreender o que aprendeu, ao menos de maneira suficiente para afirmá-lo de outra forma.
- Aplicação – refere-se à habilidade para usar abstrações em situações particulares e concretas. O estudante é solicitado a suar um método, uma regra ou um princípio para resolver um problema. O problema deve ser novo. Caso contrário, o aluno pode estar memorizando soluções e não aplicando princípios.
- Análise – refere-se à habilidade de desdobrar uma comunicação em seus elementos ou partes constituintes. Para alcançar este objetivo o aluno deve usar habilidades citadas nas categorias anteriores. Deve saber o que procurar, compreender os conceitos envolvidos e aplicar princípios.
- Síntese – trata-se da habilidade para combinar elementos e partes de modo a formar um todo. Na síntese, cada aluno deve exprimir suas próprias idéias, experiências ou pontos de vista. Não apenas uma resposta correta. Qualquer resposta que englobe a expressão própria e criativa do aluno vai ao encontro do objetivo da síntese.
- Avaliação – refere-se à habilidade para fazer um julgamento sobre o valor do material e dos métodos empregados com o objetivo de alcançar determinados propósitos. O aluno deve justificar a posição por ele assumida, baseando-se no raciocínio e na relação dos argumentos. Para ser avaliação e não compreensão ou aplicação, o objetivo deve sugerir a expressão de um ponto de vista individual. Não pode haver uma única resposta correta. Por isso, esse objetivo não pode ser avaliado adequadamente por itens de múltipla escolha em um problema educacional, determinar a conclusão lógica e julgar a precisão de outras formulações em relação a esta.
Feitas essas considerações teóricas e definidos os vários tipos de avaliação identificadas pelos estudiosos desse tema, analisaremos no próximo capítulo a prática avaliativa da escola estadual de i e ii graus "jk".
4. Análise da prática avaliativa na escola estadual de I e II
Graus "jk" avaliar é atitude que não condiz com atos desequilibrados do avaliador. Avaliar não é uma atitude repressora, coercitiva, mas é uma forma de diagnosticar falhas e deficiências no processo de ensino e aprendizagem. Visto assim, a prática avaliativa da escola "jk", na qual procedemos à pesquisa, apresenta defeitos e qualidades. a escola estadual de i e ii graus "jk" está situada à rua brasília, no bairro tonetto, área central da cidade de nova xavantina. Caracteriza-se por sua cor, de um tom azul claro, muros altos, com frases referentes à eficiência da escola no ensino-aprendizagem. Um corredor se estende do portão de acesso, passando pela secretaria, sala de professores, direção, sala de vídeo, laboratório, salas de aulas. Fora do bloco principal, foi construído um galpão que é utilizado no recreio para o lanche dos alunos e palestras. Oposto a este galpão encontra-se a biblioteca em formato octogonal. Ao fundo, existem duas quadras esportivas, com arquibancadas e cobertura. As atividades dos alunos são intensas, principalmente no que concerne às atividades esportivas, pois as quadras estão constantemente ocupadas pelos mesmos. voltando-nos para dentro da sala de aula, pretendemos neste capítulo, identificar de que forma os professores dessa escola avaliam seus alunos. Para elaboração desse trabalho foram entrevistados oito professores, sendo dois deles da primeira fase do ensino básico, três da segunda fase deste nível de ensino e 3 do ensino médio, por se tratar de um grupo de educadores que tem forte ascendência sobre o grupo de professores do estabelecimento, bem como sobre a direção e a coordenação. Sempre que se discutem os assuntos importantes para a escola, a palavra desse grupo acaba prevalecendo. Nas greves da categoria, a maioria dos professores, funcionários e alunos acaba acompanhando-os nas decisões , quase sempre opostas às indicações do sindicato, de quem falam muito mal. Acabam, de certa forma, se constituindo num conselho formado por quatro homens e quatro mulheres, das mais variadas áreas, como pedagogia, letras, matemática, geografia e biologia. São todos estáveis em suas funções, alguns próximos à aposentadoria. o grupo se caracteriza ainda por se dividir em 3 faixas:
- Professores inovadores, que buscam se atualizar constantemente, fazer cursos, ler;
- Professores conservadores, que utilizam métodos arcaicos e que têm atitudes repressoras para com os alunos e até mesmo com colegas mais novos na profissão;
- Professores que não se preocupam com o processo metodológico, com a aprendizagem ou mesmo com o ensino, pois este é levado como um quebra-galho, um bico. Destes apenas o terceiro subgrupo é silencioso, os dois primeiros falam muito, sendo que alguns membros mostram um conhecimento questionável. Outros mostram a truculência de que são capazes quando se referem aos alunos. Outros ainda, se referem ao estudante com ironia, desprezo ou deboche, antevendo o fracasso de alguns, culpando os pais, a sociedade, a igreja, o cinema, a televisão, "a mídia" pelo fracasso escolar deles. Dos entrevistados, três usam métodos os quais dizem ser modernos para avaliar seus alunos, pois recortam questões de vestibulares e "provões" para montar suas provas, escolhendo aquelas que coincidem com o conteúdo trabalhado em sala de aula, fazendo colagens das questões coletadas (anexos 1, 2 e 3). Outros professores elaboram provas "de marcar x"; outros ainda, elaboram provas objetivas e subjetivas, mostrando que não conseguem elaborar um texto próprio, pois propõem questões retiradas do próprio texto, ipsis literis, não dando margem para que o aluno raciocine e busque soluções próprias. Exige, ao contrário, que decore textos, por meio daquilo que em outros tempos, era chamado de "ponto" cujos conteúdos devem ser transcritos tal qual estão no livro didático. Há professores que passam certo número de questões para os alunos a título de exercícios, os quais são respondidos e corrigidos posteriormente pelo professor. Este seleciona dez questões, valendo 1 ponto cada uma. Quem acerta tudo, tira 10,0 e quem acerta metade, tira 5,0. As respostas, nestes casos, devem ser "descritivas" e não muito longas.
os trabalhos escolares são constantes, pois o sistema de ensino na escola é o chamado modular. Se não se derem trabalhos escolares, não conseguem "vencer o conteúdo a ser trabalhado em sala de aula." Alguns acreditam que estes trabalhos em grupos ajudam a melhorar as relações dos alunos. Outros acreditam nisso, mas acrescentam que os trabalhos são feitos por poucos, enquanto os outros se limitam a olhar a minoria trabalhar. Sugerem uns aos outros colocarem os alunos para apresentarem os trabalhos em "seminários" que assim, ninguém poderá fugir à elaboração do mesmo. esse grupo de mestres quando confrontados com o conjunto de habilidades e competências que o professor deve apresentar (1º capítulo) e os tipos de avaliação (2º capítulo), dizem que "tudo é muito bonito, mas não passa de utopia", (sic), pois "de que adianta tudo isto, se não recebemos a menor ajuda no nosso trabalho?" (sic) voltam a questionar as famílias, a igreja, a mídia, o governo e os políticos de um modo geral, que falham moralmente, atrapalhando o processo educacional com comportamentos inadequados. Apontam como exemplo, os fatos políticos e sociais, nacionais e locais que ocorrem sem que ninguém faça nada. Acham que cobrar do professor aquilo que é responsabilidade da sociedade é muito fácil, porque ninguém mais precisa mostrar competência ou habilidade, só o professor. Narram casos em que alguns tiveram que fazer papel de pai e mãe na educação dos alunos, pois se tratavam de crianças que até no banheiro precisavam de ajuda, não tendo muita noção de higiene. Afirmam que tais ações não são vistas ou percebidas pela sociedade, famílias ou estado, não reconhecendo que a escola e o professor estão indo além do papel real que cabe a cada um. os professores, na sua maioria, não vêm à escola como um espaço de busca, de socialização do saber. Na verdade, a ideologia que professam é complexa, difícil de entender, porque eles mesmos não a definem com clareza, pois a maioria começou a lecionar, fazendo da profissão de "professor" um bico. Enquanto não aparecia coisa melhor ia se deixando ficar, não se preocupando com a melhoria profissional. Mas, de qualquer forma, sentem a pressão da sociedade para que melhorem suas atividades, seu fazer educacional. solicitados a comentarem suas avaliações, alguns afirmam que avaliam para saber até onde seus alunos conseguiram aprender o conteúdo, dando respostas escritas bem claras. Outros afirmam que na avaliação já conseguem detectar "quem vai se dar bem e quem vai se dar mal". Há entre eles quem afirme que na avaliação é que "o professor mostra sua ideologia", pois acham que é papel da escola e do professor "moldar" o homem do futuro. Situações assim são encontradas em outras escolas já que os professores não fazem segredo de suas posturas políticas as mais contraditórias possíveis. No discurso, são de esquerda algumas vezes, mas na prática são de direita, ou governistas, pois acham que não se alinharem ao governo, à direção da escola, no próximo ano não terão vaga na escola para trabalhar – principalmente aquele professor interino. atitudes assim levam a pensar naquele que é a meta maior do nosso sistema educacional: o aluno.
Caracterização da população estudantil da escola "jk" no período matutino a caracterização da população estudantil deve começar por mostrar a situação dos pais e da família do aluno. Assim, aleatoriamente selecionamos as fichas de matrícula de 30 alunos do período matutino, das quais observamos a situação profissional dos pais (anexo 4 – quadro i). Dos pais de alunos neste período de ensino, a maioria está concentrada na agricultura e pecuária, seja como produtor agrícola (13%), pecuária (10%) ou trabalhador rural, na condição de empregado (3%). Há casos em que a família mora na zona rural e os filhos vêem para escola nos ônibus da prefeitura. Mas há também casos em que o pai fica trabalhando na fazenda ou sítio, enquanto que os filhos moram na cidade, com as mães. Os filhos de professores constituem 10% dessa população. Observou-se, entretanto, que nessa escola não há filhos de professores dela mesma, mas de outros professores, de outras escolas. Os filhos desses professores se concentram, de preferência, em escolas particulares. Outros alunos (13%) são filhos de policiais (civis e militares), enquanto que 7% dos alunos são filhos de motoristas (de caminhão de frete); os filhos de trabalhadores na construção civil constituem 7% da população estudantil. O maior número dos alunos é de famílias cujos pais estão desempregados (30%), sendo que desses, a maioria está sem trabalho, a mais de um ano. Estes últimos têm se mantido graças a cestas alimentícias fornecidas pela igreja católica e casa espírita. Dizem que da maneira como as coisas se encaminham, não sabem quando poderão trabalhar, pois a crise os tem atingido em cheio. dos alunos observados, (conforme anexo 4 – quadro ii) 3% estão trabalhando na construção civil, como serventes de pedreiro. No comércio, 17% trabalham como balconistas ou entregadores de supermercados. No comércio ambulante, vendendo de pamonha, picolé, de bolo a laranjinha, estão outros 3%. Na feira livre, aos domingos, estão 7% dos alunos. Na limpeza de lotes e quintais urbanos, 3%. Como empregados na agricultura (horticultura), estão 30% dos alunos. Aqueles que só ajudam em casa (meninos e meninas), constituem outros 30% e os que só estudam, são 7% dos estudantes pesquisados. quanto à distribuição por nível/série, (conforme anexo 4 – quadro iii), nas quintas séries estão 19% dos alunos; nas sextas séries, 14%; sétimas séries e oitavas séries, 14% e 17%, respectivamente. No ensino médio (2º grau), temos 13% dos alunos na primeira série; 14% na segunda série e 9% nas terceiras séries. Desses alunos 47% são do sexo masculino e 53% são do sexo feminino, notando-se aí uma ligeira superioridade numérica das mulheres sobre os homens. a avaliação realizada na escola, como veremos a seguir, a rigor, é tradicionalista, servindo apenas para perpetuar as diferenças sociais existentes no seio da escola e da sociedade de um modo geral. Se observarmos bem, ela é feita sem qualquer objetividade, com o sentido de punir o aluno na ausência de um comportamento mais adequado. As formas de avaliar têm produzido quadros estarrecedores na vida dos alunos, que, como já vimos, são trabalhadores na sua maioria. Outros estão ali porque os pais os obrigam e o professor os aflige com avaliações completamente fora da realidade. Dos alunos que nos serviram de amostragem, (anexo 4 – quadro iv), oito deles, ou 27% são repetentes. É um número grande para um universo tão pequeno. A realidade fica ainda mais estarrecedora quando vemos que dos oito alunos, 25% já reprovaram pelo menos uma vez; 50% já reprovaram duas vezes e outros 25% já reprovaram três vezes ou mais. Há o caso de uma aluna que já poderia estar terminando a faculdade e, no entanto, está na segunda série do ensino médio, cheia de complexos. Neste sentido, hoffmann (1.998), nos diz que "o educando vive, muitas vezes, o anonimato em sala de aula, ou seja, não é verdadeiramente "olhado" em sua realidade, em seus sentimentos, assim como não se procura entender suas perguntas, suas hipóteses, sua particular trajetória de construção de conhecimento". Observa-se, como veremos na análise da prática avaliativa dos professores, que a maioria deles parece estar estacionada no tempo; não procura compreender seu aluno e a realidade que o cerca, o que aumenta ainda mais o seu grau de desinteresse. Com esse perfil de alunos e com as características que identificamos na maneira de avaliar dos professores é fácil compreender as razões que têm levado ao fracasso 27% dos alunos da escola.
neste ponto, é preciso termos em mente os nossos propósitos. Primeiro queremos discutir alguns pontos que para nós são de suma importância em avaliação educacional. Depois vamos mostrar nosso trabalho educacional e apontar ou encaminhar propostas de avaliação já executadas neste trabalho, sendo, portanto, coisa concreta, experimentada. avaliar, conforme vimos, é uma ponta do triângulo que tradicionalmente compõe o processo ensino-aprendizagem. Refletir sobre avaliação, portanto, é refletir sobre o ensinar e o aprender. E essa presença é garantidas pela qualidade do planejamento de ensino, de seus objetivos, das metodologias adotadas, dos recursos oferecidos para o desenvolvimento dos trabalhos. para que a avaliação seja resultado do ensino-aprendizagem, é preciso que a escola, o professor e o aluno, bem como os pais e a sociedade estejam realmente envolvidos para que o saber seja construído respeitando os espaços delineados culturalmente. Isto é, precisa-se que as famílias ajudem no processo educacional, bem como a sociedade, os políticos, a igreja, os meios de comunicação. A educação escolar de jovens se torna complicada porque os meios sociais externos têm uma compreensão diferente da compreensão da escola a respeito da ética, da política, dos bens públicos, do saber, do viver, do mundo do trabalho – principalmente aquela escola que se quer independente, que não aceita a exclusão como fator de sustentação das classes dominantes. E é preciso que a escola ensine conceitos envolventes e busque se inovar no dia-a-dia, para que a mesmice e a monotonia não venham a dominar seus alunos, seus professores e aqueles que procuram levar o conhecimento aos lugares dantes dominados pela ignorância, pelo não-saber. assim, de pouco ou nada adiantarão leis, decretos ou outras formas de controle educacional, se não partirmos para uma revolução da consciência, do coração, em que todos os envolvidos venham a atuar com maior ênfase em todos os sentidos, para a melhoria da educação, ou seja, do ensinar e do aprender. nesse sentido vemos a avaliação não como uma ferramenta, instrumento ou "coisa" (pois a coisificamos, como coisificamos o homem e a educação), mas, como um meio ou uma relação que nos levará a um melhor ensinar, porque estaremos de fato preocupados com aquilo que o aluno aprendeu/apreendeu, e muito mais preocupados com o que não aprendeu/apreendeu, procurando suprir suas deficiências com o bom ensinar, para juntos caminharem rumo ao conhecimento acumulado pela humanidade ao longo do tempo. E mais que isso, construindo o novo, pela revolução do velho, com o intuito transformá-lo. esta relação entre professor e aluno é construída com base na contradição, no debate, na discórdia, na construção do texto, na síntese, (fruto do confronto tese-antítese), num movimento circulatório em que prevalecerão as idéias; a busca do saber, construído sempre passo-a-passo, na longa trajetória que levará indubitavelmente ao conhecimento.
como avaliar? temos a opinião de que não precisamos mais massacrar nossos alunos no dia-a-dia, com provas, testes, medidas diversas, mesmo porque o conhecimento não é algo que possa ser medido, como se mede tecido na loja, como se pesa a carne no açougue, como se calcula o percurso de casa ao trabalho. O conhecimento não é palpável. É algo que não se toca. Sente-se no diálogo, no fazer, no construir, no demonstrar das habilidades manuais. Então, avaliar se torna um puro exercício de observar o aluno no seu fazer educacional, nas suas atividades cotidianas. As aulas práticas, os relatórios, os resumos, sínteses, tudo isso entra como material a ser observado, sem que se fale em provas, testes, verificação, etc. a avaliação de alunos deve estar sempre voltada para o real. Para isso, é necessário que se apresente a ele, uma proposta do que se pretende fazer teoricamente, levando-o à prática, conforme o que demonstramos a seguir: Suponhamos que o conteúdo a ser trabalhado seja de física eletricidade. A parte teórica deve ser feita de forma rápida, passando-se a seguir, à parte prática em que seja construído, por exemplo, um circuito elétrico para demonstrar a produção de energia, sua distribuição, consumo, economia, bem como suas implicações ecológicas. Podem demonstrar suas habilidades e ao mesmo tempo teorizar sobre átomos, elétrons, prótons, o caminho da energia. O circuito construído, sua explicação oral constituem uma avaliação que é acrescida ao relatório produzido pelo aluno. As implicações entram na capacidade de extrapolação do aluno, com auxílio do professor, também entram no relatório de forma interdisciplinar. Nesta fase o aluno estará também desenvolvendo suas habilidades de escrita. Esse relatório será arquivado numa pasta individual que denominamos de portfólio, para o acompanhamento do crescimento intelectual do aluno num período (bimestre, semestre ou ano letivo). o portfólio, além de se constituir num arquivo de trabalhos do aluno, servirá para que além do professor, os pais também possam acompanhar os trabalhos dos filhos. O aluno é solicitado a melhorar seu relatório, seu resumo ou outra atividade qualquer. Caso não o consiga, não será prejudicado, ao contrário, o seu trabalho é arquivado para consultas sempre que necessário, para que o aluno possa ter uma orientação segura do caminho a seguir na construção do seu texto. essa forma de avaliação evita o excesso de provas, eliminando-se a grande quantidade de papéis que tanto professores e alunos têm que lidar. Embora essa proposta tenha sido pensada inicialmente para as áreas de ciências físicas e biológicas e programas de saúde, biologia, física e química, que normalmente envolvem uma carga horária de aulas práticas (laboratório) acreditamos que com as devidas adaptações ela possa se constituir num mecanismo de avaliação também viável para outras áreas. dessa forma, como conclusão desta reflexão, dizemos que o dever de educar é de todos nós – professores, pais, sociedade, escola. A avaliação escolar, que é tarefa do professor não pode ser mais o prego no solado do sapato do estudante. Ela deve ser a consagração seu encontro com o saber realmente construído passo-a-passo, ao longo do tempo, na sala de aula, no pátio da escola, no laboratório, na biblioteca, em casa, na rua, no mundo em que vivemos enfim.
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Autor:
Perillo josé sabino nunesnova xavantina – mato grosso
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