Resiliência del adolescente e sus componentes emocionais durante su desenvolvimento
Indice 1. Introdução 2. A observação da criança e dos jovens 3. Aplicação de um programa de desenvolvimento cognitivo adaptado a uma situação concreta 4. A noção de resiliência 5. Adopção e resiliência 6. A agressividade e a resiliência 7. A adolescencia tardia e a resiliência 8. A adolescência, a família e resiliência 9. Conclusões 10. Bibliografia
Ao me ter sido colocado como desafio um trabalho sobre a resiliência, conceito novo mas já velho, pois que foi importado pela psicologia das engenharias, como foi referido por Tavares em diversas conferências, fiquei um pouco atónito, pois que apesar de já ter escrito uns dois artigos para alguns jornais regionais sobre esta matéria, só me debrucei sobre ela há relativamente poucos anos, não pela termo de resiliência, mas sim e essencialmente no que respeita sobre a resistência às frustrações, às quais os sujeitos são confrontados no seu dia a dia. Claro está, que não podemos de forma alguma desligar a resiliência dos aspectos desenvolvimentistas, já que a resiliência forma-se através dos diversos mecanismos de defesa, que vão sendo adquiridos durante a evolução do ser humano. Na verdade, ao ler atentamente um texto de Joyce-Moniz assaltaram-me algumas dúvidas sobre "O desenvolvimento moral segundo Kohlberg", sobre os quais já me tinha debruçado anteriormente, quer por obrigação de estudo, quer ainda por ser para mim um tema que na realidade me apaixona. Se por um lado a resiliência pode ser vista como a maleabilidade que o sujeito tem para enfrentar as situações adversas que lhe são colocadas no seu dia a dia, uma pergunta na altura ficou no espírito, então o desenvolvimento moral do sujeito não terá nada a ver com a própria resiliência? Assim e ao ler mais atentamente "Limites e contradições dos estudos do self e em segundo lugar da corrente cognitivo-desenvolvimentista nos estudos do self" de Moniz (1976)" e "Relatedness and Self-Definition: A dialetic Model of Personality Development" de Blatt & Blass (1996), Assaltaram-me diversas dúvidas sobre o assunto, chegando porém à conclusão que a partir do primeiro autor poderia na realidade desenvolver um texto sobre o desenvolvimento do self e a resiliência. Isto devido a já conhecer o texto de Joyce-Moniz de longa data, e sobre ele me ter debruçado diversas vezes, servindo-me muitas vezes de inspiração. Além disso, quando Joyce-Moniz (19766) se refere ao "papel interpessoal do jogo das relações na primeira infância e da dependência da sua mãe para o estabelecimento da maturidade, satisfação mútua, reciprocidade, e o estabelecimento de relações intimas na idade adulta" vem ao encontro das ideias apresentadas por (Blatt & Blass; 1996:309), em que este segue praticamente a mesma linha de pensamento.
Porém ao reflectir sobre a resiliência, assaltaram-me dúvidas e algumas questões que de uma forma ou de outra foram sendo escalpelizadas, através de leituras e de algumas observações de campo, sem nenhum aspecto rigoroso e científico, uma relação ténue ao princípio começou a aparecer, tornando-se efectivamente à medida que ia observando em particular os alunos institucionalizados, que estes ao apresentar comportamentos rígidos perante algumas situações, demonstravam que a sua resiliência seria bastante baixa. A evolução do vocabulário psicológico utilizado modificou-se bastante em pouco mais de quinze anos, e que devido a diversas circunstâncias muitos de nós psicólogos refugiamo-nos no passado aprendido, pois que, na realidade, é o mais seguro. Porém uma definição de resiliência nos assaltou após algumas leituras e investigações, é que o prédio mais seguro será aquele que tenha uma maior resistência às vibrações, ou seja, que não venha abaixo com um tremor de terra. A nível de engenharia, as primeiras construções anti-sismicas em Portugal são na realidade posteriores ao terramoto de 1755, em que os projectistas resolveram construir os prédios dentro daquilo que era considerado uma "gaiola de madeira", pois que este tipo de estrutura apresentava uma resistência às vibrações, já que balançava com elas, não se desmoronando. Não somos nem especialistas em engenharia, nem historiadores, para aqui descrever todo o processo que levou Marquês de Pombal e Manuel da Maia, a avançar com esta ideia, porém uma coisa é certa foi uma inovação a nível europeu, já que a "gaiola de madeira" prevenia por um lado as derrocadas, e por outro como os prédios estavam assentes em estacas que eram introduzidas no solo da baixa lisboeta, que como todos nós sabemos está irrigado por diversas fontes subterrâneas, tornava-se dessa forma um sistema ideal, quer anti-sísmico, quer anti-fogo, pois que as madeiras impregnadas de água, não deixavam que o fogo se alastrasse. Ora a adopção destas duas medidas não é mais do que a utilização de dois mecanismos de defesa, não a nível da personalidade, mas sim da engenharia conhecida na época. Assim o prédio mais seguro seria aquele que devido a um tremor de terra balançasse ao ritmo da vibração desse tremor, mas que ao mesmo tempo se mantivesse de certa forma o mais possível intacto. Esta ideia a nível de engenharia, prosseguiu até aos nossos dias, tanto assim que a "gaiola de madeira" é substituída não por madeira, mas por aço e cimento, apresentando os prédios de hoje uma estrutura semelhante, mas realizada em cimento e ferro. A personalidade do indivíduo pode ser observada e analisada como um edifício que vai ser construído pouco a pouco, durante o seu desenvolvimento. Claro está que durante o desenvolvimento muitas frustrações põem à prova o sujeito. Tanto assim que muitos desequilíbrios de personalidade são devidos às perturbações causadas pelo meio, as quais se vão reflectir mais tarde na personalidade do sujeito. As três ideias básicas 1 � Três ideias básicas que considero mais relevantes do texto de Moniz (1976), são sem dúvida a referência que Moniz faz a Erickson (1963) em que este "acredita que a capacidade cognitiva pessoal prevalece sobre o exame dos conteúdos da experiência pessoal, defendendo, pois a necessidade do estudo do self como agente do conhecimento." Na verdade, só o estudo da personalidade do sujeito e da sua história de vida, nos pode levar a entender o porquê, de muitas acções, que de uma forma ou de outra conduzem a uma determinada evolução quer da personalidade quer de si próprio. O self não pode ser observado separadamente, pois que tratando-se de um conjunto de situações e de evoluções do próprio sujeito, que tal como o Professor Barahona Fernandes, durante o "I CURSO DE CIÊNCIAS DO SISTEMA NERVOSO" realizado no Hospital Júlio de Matos em 1982, referiu. "a personalidade e as suas alterações são muitas vezes quase que como pré-definidas, como se existisse um "élan vital", que levasse o sujeito por caminhos, que poderiam ou não abalar a sua estrutura pessoal". Segundo Fernandes (1961: 20) "A pessoa humana é uma realidade que, por outro lado, se não dilui num transcendente englobante", nem num "estar-no-mundo", nada nos dizendo sobre a sua constituição e estrutura. Uma realidade que também se não desintegre em processos físico-químicos e biológicos. Nem em forças míticas do além e do aquém." Sendo assim seria quase que como um pré-determinismo pessoal, apesar de o sujeito poder alterar esses caminhos, se o seu self não resistisse aos diversos embates sucessivos que a vida lhe vai colocando à sua frente, não os conseguiria ultrapassar, entrando então em situação de crise. A evolução da resiliência, depende da própria construção de vida que o sujeito realiza. Existem diferenças significativas entre uma criança que apresenta um desenvolvimento global acelerado e outra que devido a circunstâncias várias, com os mesmos potenciaIs, foi institucionalizada. Se os potenciais são os mesmos, mas as situações ecológico-sistémicas são bem diferentes, e serão estas em último lugar que irão favorecer e desenvolver a resiliência. "2 � "Primeiro, e de um modo geral, sem uma perspectiva de desenvolvimento do self, não existe uma compreensão completa das sequências e relações de causas a efeito, o que limita as predições do comportamento. Só as dimensões antecedentes clarificam coerentemente as implicações e as transformações do comportamento presente." (Moniz, 1976: 17) A resiliência não pode ser estudada parcelarmente, mas tem que ser observada no seu conjunto, tal como o self referido por Erickson, não se pode observar somente uma parte da personalidade da pessoa, mas também não podemos de forma nenhuma pensar que a história de vida do sujeito, o não afecta. Segundo Milan & Pinderhughes (2000: 63) "For children with a dysfunctional primary caretaker, establishing a positive relationship with an alternative adult may be one of the mechanisms by which children sustain or return to an adaptive trajectory." Estas trajectórias de vida, podem ser das mais diversas, mas a existência de algo durante o seu desenvolvimento pode por vezes mostrar que, a criança emocionalmente perturbada é sem dúvida alguma alvo fácil na alterações das suas trajectórias de vida. Se bem que as crianças institucionalizadas, apresentem por vezes graves problemas de comportamento, a sua história pessoal, e a sua componente emocional, podem sem dúvida alguma, alterar as suas trajectórias de vida. Na maioria das instituições as relações familiares diluem-se, mesmo que existam substitutos parentais, que de uma forma ou de outra estão representados através dos diversos funcionários da instituição. Só que os elos de ligação entre os elementos desta pequena comunidade, não são de forma nenhuma o semelhantes ao funcionamento da família nuclear. Com Freud ficámos a saber que para um desenvolvimento normal, existem uma série de etapas que têm que ser ultrapassadas e resolvidas, sendo uma delas e talvez a mais importante o complexo de Édipo/Electra, só que as crianças entregues às instituições demonstram por vezes o que este tipo de complexo, pode nunca chegar a ser tão real quanto isso. Milan & Pinderhughes (2000: 63) comentam que a situação da criança institucionalizada e as suas representações bem como as relações estabelecidas dentro de uma instituição nunca foram devidamente estudadas. A nível das famílias de adopção referem que podem ser os substitutos dos pais, retomando então a criança o seu desenvolvimento normal. "3 � Segundo é referido por Turner (1968) citado por Moniz (1976: 19) "A teoria do self social pressupõe que a identidade do self é derivada de orientações e experiências interpessoais." As condições sócio-económicas e familiares vão de certa forma estruturar uma identidade pessoal, que tal como Turner refere (1968) vai ser derivada das experiências pessoais anteriores, levando dessa forma a uma construção da personalidade própria. O desenvolvimento da criança, começa bastante tempo antes do nascimento, tanto assim que carências alimentares graves, podem provocar déficits a nível do desenvolvimento quer físico quer psicológico. Uma pergunta, pode ser posta, quando é que começa a resiliência do sujeito? Existem situações, que parece que "a vontade de viver do feto" é tão grande, que supera todas as expectativas a nível médico, pois que ele vai resistir a todas as contrariedades que lhe são postas durante o seu desenvolvimento fetal. Será que este ser que ainda não nasceu, não apresenta desde logo resiliência? Se reflectirmos podemos pensar que sim, a criança que nasce em condições adversas, apresenta-se logo à partida como sendo uma criança resiliente, se bem que existam posteriormente situações de desenvolvimento que possam comprometer essa situação. As situações adversas podem ser das mais variadas, inclusive uma gravidez complicada,. pode ser vista como condição adversa, mas o desenvolvimento posterior, pode ser estimulante suficiente, para que a criança desenvolva os seus potenciais cognitivos. À alguns anos atrás, em 1989, foi apresentado durante um congresso, um programa de desenvolvimento cognitivo, que pretendia estimular a criança a ponto tal, que todas elas que apresentassem potenciais cognitivos normais, poderiam transformar-se em crianças superdotadas, só que a estimulação iniciava-se desde o berço, através das mais variadas técnicas. O país em referência era os Estados Unidos, este programa partia com uma base simples, é que se utilizamos a estimulação precoce, para as crianças deficientes evoluírem, então se utilizarmos o mesmo tipo de acção em crianças normais, estas evoluirão muito mais depressa. Claro está que está que este tipo de desenvolvimento, nem sempre é assim, pois que nem todas as crianças que passaram por este programa se transformaram em crianças sobredotadas, algumas evoluiram mais depressa, tendo chegado a resultados surpreendentes. Porém o que não foi dito, foi observado no vídeo apresentado na altura, é que para além da estimulação precoce, algumas das crianças que apresentavam um desenvolvimento precoce, não iam à escola, pois que realizavam a sua escolarização em casa, evoluindo muito mais depressa do que aquelas que tinham que permanecer nos bancos da escola. Ora este tipo de educação tem que ser devidamente observado, pois que não é efectivamente só a estimulação que é posto em jogo, mas também uma certa pedagogia familiar que está em actuação. Claro está que se a criança tiver à partida uma rede neuronial bem desenvolvida, irá evoluir muito mais depressa do que uma outra que apresente um déficit nessa rede. A estimulação precoce na primeira, poderá desenvolver muito mais os seus potenciais cognitivos, enquanto que na segunda poderá desenvolver um pouco mais as suas capacidades cognitivas, mas de forma nenhuma irá atingir os parâmetros do primeiro caso. 2. A observação da criança e dos jovens A ligação destas três ideias principais vieram a estar sempre presentes no meu percurso sócio-profissional, quer como professor quer como psicólogo, além disso tem-me sempre levado a ver que o sujeito não pode ser visto de uma forma isolada, e muitas das vezes, a observação da criança acompanhada pelos pais vai clarificar vários aspectos do comportamento. Na realidade, uma observação psicológica, pode implicar o uso e técnicas psicométricas ou não, mas o mais importante é sem dúvida alguma a dinâmica familiar que existe, pois que por detrás de quem está a ser observado, seja ele criança, adolescente ou adulto, existe uma problemática, que tem, muitas das vezes, origem no seio da própria familia. Na realidade, o meu interesse da activação do desenvolvimento cognitivo, vem desde a altura em que passei pela Unidade de Neuropsicologia, que se encontrava ligada à Neurocirurgia de Lisboa. Não posso considerar esse local como laboratório de neurociências, pois que as condições de trabalho na altura era algo deficitárias. Só que, a observação dos adultos em pré-operatório e pós-operatório, levou-me na altura a escrever na monografia de fim de curso, que a plasticidade neuronal existia, e que após a lesão removida, concrectamente os meningeomas, se fosse realizada uma activação de desenvolvimento cognitivo poderíamos obter uma recuperação do sujeito muito mais rápida, do que sem ela. Esta estimulação neuropsicológica era realizada, no período pós-operatório mal o paciente levantava a anestesia, observando-se que a recuperação das redes neuroniais eram aceleradas por esse processo estimulatório. Convém ainda referir, que o meningeoma ao realizar a compressão cerebral, vai provocar uma atrofia das redes neuroniais das zonas comprimidas. A descompressão dessas zonas não leva só por si à reposição das redes neuroniais preexistentes, para isso é necessário que o paciente utilize as funções dessas áreas, para que elas possam voltar a funcionar. A nível de uma proposta de pesquisa, surge-me por vezes a necessidade de realizar planificações a curto prazo, dando-se casos em que o conhecimento da história do sujeito, é praticamente nula, pois que o acesso a determinados contextos sócio-familiares nos é vedado, devido à perturbação da própria estrutura familiar, que levou a que os jovens fossem parar a instituições. Ao ter-me sido solicitado que fizesse a observação a nível de uma orientação vocacional, para um dos possíveis cursos profissionais, de um grupo de jovens, foi-me colocada a seguinte questão: "Pode-se fazer mais alguma coisa além de avaliar as capacidades cognitivas, e a seguir poder-se-á desenvolver essas capacidades?" O problema colocado foi o seguinte: como activar o desenvolvimento cognitivo, e ao, mesmo tempo, modificar alguns hábitos enraizados que se repercutem no comportamento e no aproveitamento escolar. Ao planificar sete sessões de trabalho de duração de duas horas e meia, elaborei uma planificação, que iria, ter alterações ao longo das sessões, podendo-se utilizar ou não esse material, dependendo do ritmo dos seis elementos. O material a ser utilizado, teve como base o Programa de Envolvimento Instrumental de Feuerstein, sendo utilizado outros materiais recolhidos de Klausnitzer (1972), Nimmergut (1972) e Ukkmann (1972). E por último a reaplicação de um teste de mecânica, para se poder observar se existiu ou não alguma evolução no desenvolvimento cognitivo. 3. Aplicação de um programa de desenvolvimento cognitivo adaptado a uma situação concreta O trabalho com estes jovens apareceu a pedido da "Casa dos Rapazes", no sentido de se observar qual a melhor saída para estes 6 jovens, que ao se encontrarem praticamente fora da escolaridade obrigatória, não apresentavam métodos de trabalho nem de estudo. Algumas destes jovens apresentam bons potenciais de desenvolvimento cognitivo, porém a existência do sentimento de abandono, e as perturbações emocionais, aparecem constantemente. Muitos dos problemas apresentados por estas jovens deve-se à situação abandónica pela qual passaram, apresentando dessa forma uma série de alterações e comportamentos emocionais, representados nas situações de trabalho escolar. Porém algumas reflexões temos que realizar relativamente aos jovens institucionalizados. Algumas delas a resposta é directa, porém as histórias familiares por detrás desta institucionalização são na sua maioria idênticas. Cenário 1 – Um casal vivendo em condições sócio-económicas difíceis, tem seis ou sete filhos, o marido alcoólico, bate na mulher e nos filhos, tendo esta que pedir protecção às entidades policiais que remetem a situação para o tribunal de menores, o qual coloca os jovens na instituição. Cenário 2 � O jovem turbulento e violento em casa, torna-se impossível de controlar pelos pais, já que estes estão fora de casa o dia todo e o jovem perturba constantemente a ordem pública, cometendo desacatos de vária ordem, roubos frequentes, até que a PSP leva o caso à Comissão de Protecção de Menores, que após uma série de diligências o coloca à guarda de uma instituição, para esta se encarregar da sua educação. Cenário 3 – O abandono, desde muito jovem não consegue encontrar um familiar que cuide e o eduque, passando a sua tutela para a Instituição. Cenário 4 – O jovem é colocado na instituição porque os pais declaram ao tribunal de menores que não tem rendimento suficiente para educar os seus filhos, nesta situação alguns jovens passam a semana na instituição, e durante os fins de semana e as férias vão até casa dos pais. Cenário 5 � A criança é abandonada depois de ter sofrido maus tratos e de não ter sido alimentada convenientemente, o que na maioria das vezes provoca sequelas irreversíveis a nível de desenvolvimento cognitivo. Na realidade são cenários pouco gratificantes, porém são bem reais, encontrando-se situações deste tipo por todas as cidades do país. Claro está que a primeira situação a ser posta em causa, é a escola, onde o garoto realiza ou deveria realizar a sua aprendizagem. Porém essa aprendizagem irá ser perturbada devido a não existir uma situação estável a nível familiar. E apesar de se observar que muitos jovens institucionalizados tem familiares que poderiam cuidar deles, estes pura e simplesmente dizem não a esta situação, mesmo que tenham situações sócio-económicas estáveis e que o ambiente sócio-familiar seja equilibrado. Um dos casos que posso referenciar, designando a jovem por A.: que era abusada sexualmente pelo seu padrasto, tendo a própria mãe conhecimento do assunto. Esta garota conseguiu ter a coragem de contar a história a um conselho executivo, que resolveu pôr em actuação todo um processo de inserção da garota numa instituição. Porém, as normas institucionais desta leva a que a jovem vá passar o fim de semana e as férias com os seus familiares. Só que os abusos prosseguiram tendo a jovem entrado em depressão a tal ponto que se deixou de alimentar, tendo que vir a ser internada num hospital para tratamento. Felizmente alguém da cidade onde a instituição se encontra, resolveu após ter conhecimento do caso, de que talvez a sua integração dentro do seu seio familiar fosse a melhor ideia, tendo a garota, apesar de continuar a ser seguida pela pedopsiquiatria, recuperado o seu rendimento escolar e voltado a aparentar alguma felicidade nos seus olhos, apesar destes no fundo demonstrarem que já passou por algo bastante traumatizante, que lhe terá deixado sequelas. Porém a sua vontade de viver de ser acolhida por alguém está ligada inerentemente à sua resiliência, à sua flexibilidade em aceitar que apesar de ter passado por uma situação marcante durante anos, consegue ter a flexibilidade necessária para conseguir adequar-se a uma nova situação. Como se define resiliência? Definimos resiliência como um processo de persistência face à adversidade. Podemos observar evidências da resiliência em pequenos detalhes da vida das pessoas, bem como da forma como elas tentam lidar com esses problemas de uma forma construtiva, de forma a transformar os escolhos no seu caminho em seu benefício Na realidade a resiliência do ponto de vista psicanalítico tem que ver segundo Gleitman (1999: 1031) com "as várias formas de resistência, normalmente inconscientes pelas quais o paciente tentava desviar a corrente do pensamento � mudando de assunto, esquecendo do que estava para dizer, etc.", É assim que Freud terá iniciado a associação livre de forma a poder analisar que tipos de lapsos de linguagem, ou outras acções demonstravam que algo se estava a passar com o sujeito no seu inconsciente. Porém a psicologia evolui, e actualmente observa-se a resiliência de uma forma ligeiramente diferente, já que se vai observar como uma evolução da personalidade, bem como é sem dúvida alguma uma forma que todos nós temos de aceitar por um lado as adversidades que nos são postas perante nós, mas por outro de as conseguir ultrapassar. Se por um lado a situação enfrentada é uma situação desagradável psicologicamente, deixando por vezes marcas efectivas, por outro lado é bem certo que a força psicológica com que o indivíduo enfrenta esses problemas está dependente da sua resiliência, além do que é uma das formas que o sujeito tem de ultrapassar esse problema. Para além disso podemos ao mesmo tempo observar que existe uma evolução a nível da personalidade do sujeito quando consegue ultrapassar essas situações que lhe são postas no caminho. Porém, não são todos os seres humanos que conseguem ultrapassar estes momentos de crise, além do que o sofrimento físico e psicológico, pode inibir e de certa forma alterar a resposta resiliente do sujeito. Na realidade, a física e a electricidade explicam-nos que uma resistência tem limites, e que se a energia eléctrica for superior à sua capacidade, esta entra em curto circuito, queimando-se fazendo com que os aparelhos entrem em curto-circuito. Se bem que no ser humano este tipo de comparação não possa ser feita desta forma, começam a surgir indícios mais ou menos claros que algo de semelhante acontece no ser humano. Isto é o indivíduo por muito resiliente que seja, pode chegar a um ponto em que não aguente mais, daí que surja uma nova dinâmica e ao mesmo tempo um novo termo, que como é de ver parte dos psicólogos americanos, que se designa por "Burn out". Além do que a flexibilidade apresentada pode parecer por vezes algo que não deixa marcas, mas que no fundo torne o sujeito vulnerável, chegando mesmo ao ponto de desistir de se adaptar a novas situações, pois que as suas lembranças tornam tal impossível. Nesta situação podemos recordar Bruno Betteleim que se suicidou, apesar de ter apresentado uma grande resiliência enquanto esteve internado nos campos nazis. Mas se reflectirmos um pouco, e convém na realidade faze-lo, Betteleim apresentou grande capacidade de adaptação, enquanto esteve internado nos campos nazis, de tal forma que conseguiu sobreviver, só que as recordações deixadas por todos os acontecimentos vividos, permaneceram, não tendo ele conseguido resolver nem conseguido qualquer explicação para esse fenómeno. Ora neste trabalho em que nos referimos aos jovens institucionalizados, em instituições de portas abertas convém salientar que as suas memórias do que já passaram existem e permanecem indeléveis, levando-os muitas vezes a arranjar mecanismos de defesa de esquecimento, para não pensarem naquilo por que já passaram. Trata-se aqui de algo complicado de descrever, pois que praticamente nenhum de nós passou por uma infância de abandono e de maus tratos. Mesmo em certas situações mais complexas, houve alguém na nossa vida que fez a vez de pais, e nos educou, tratou e acarinhou, coisa que não se passa com a maior parte dos jovens institucionalizados. Estas experiências vividas pela maior parte destes jovens são sobretudo traumáticas, porém encontramos outras situações em que o/a jovem apesar de ter um comportamento adaptativo normal, as suas entidades parentais tentam por todas as formas arranjar-lhes problemas. Quando nos olhamos ao espelho encontramos semelhanças nos nossos familiares. Traços fisionómicos parecidos, movimentos idênticos, formas de falar semelhantes, inclusivé a tonalidade e a colocação da voz. Estas semelhanças não são aparentes, são bem reais distinguindo-nos uns dos outros, mas ao mesmo tempo dando-nos uma certa carga hereditária. Agora, se se tratar de uma criança adoptada, esta certamente irá olhar para o espelho e por volta dos 12/13 anos notar que semelhanças não existem, então ela é originária de onde. Quem é a sua família? São na realidade perguntas que a criança, mesmo que as não expresse começa a realizar, e a engendrar, pois que sente que não é igual, e a sua resiliência vai-se ressentir, bem como a sua adaptabilidade. Isto não quer dizer porém que os afectos que são nutridos pela família adoptiva não continuem a existir e por vezes laços mais profundos a nível emocional são estabelecidos, porém a pergunta e a dúvida irão persistir, até que exista uma resposta definitiva. A procura de uma resposta leva por vezes o/a jovem a questionar-se porquê é que não existem parecenças físicas, apesar da ligação afectiva existir em toda a sua plenitude, dúvidas circunstânciais começam a existir. De os estudos realizados por Lawton e Gross e referenciados por Ajuriaguerra (1977: 808) referem-se que "é preciso admitir que as crianças adoptadas podem ter problemas psicológicos, mas está por demonstrar que aparecem nelas uma proporção significativa de perturbados. Apontam no seu estudo os problemas emocionais que vão desde a introversão extrema até questões de dependência manifesta ou de agressividade e turbulência." Muitos problemas sobre a adopção que são colocados pelos pais adoptivos, é naturalmente qual é a altura certa para se dizer à criança que ela não é filho biológico, mas sim que para todos os efeitos legais é como se fosse filho legítimo do casal e reconhecidos pela lei do país, como seu filho legítimo. Segundo Kaplan, Sadocl e Grebb (1997) a altura referenciada por estes será por volta dos dois ou quatro anos de idade, para evitar que a criança venha a ter conhecimento do facto por estranhos à família. Esta opinião é já anteriormente referenciada por Ajuriaguerra (1977), apesar de admitir que a revelação torna-se mais fácil quando a criança chega à puberdade e começa a encontrar na família adoptiva a segurança que teria encontrado na família biológica. Porém as opiniões sobre esta matéria são algo divergentes, porque outros autores, admitem que quando a criança começa a fazer perguntas sobre de onde nascem os bébes, dever-se-á começar a aflorar o assunto, porém outros admitem que o desconhecimento de não ser filho biológico, poderá vir mais tarde a apresentar consequências tardias no caso de existirem acidentes de percurso, em que por qualquer razão de força maior, um segrego até tão bem guardado pela família, é nesse momento revelado, que na realidade a criança, já adulta e responsável não é filho de (A + B) mas sim de (A + C), ou mesmo de outros pais completamente desconhecidos, ficando só nessa altura a saber que o seu ADN não é dos seus pais, mas sim de alguém completamente desconhecido. Esta situação referenciada em cima, não é de forma alguma ficção, mas sim uma situação real, em que um dos membros da família necessitava urgentemente que houvesse doação de medula óssea, tendo-se predisposto a filha mais velha a realizar tal doação, só quando os médicos com um certo tacto disseram que ela não poderia ser doadora, porque o ADN não correspondia ficou a saber nessa altura, já adulta que não era de (A + B) mas sim de (C + B). Claro está que esta senhora já desconfiava à algum tempo que algo se passava, mas todavia não desconfiava, que por acaso "C" até fosse seu tio. Na realidade os actuais problemas colocados pela adopção começam a surgir, não de uma forma legal, nem de uma forma psicológica, mas mais de um ponto de vista médico, no caso de existir alguma necessidade de doação de sangue, medula óssea ou outros problemas em que é necessário saber a história toda do sujeito, e mesmo dos seus antecessores. De facto a resiliência à situação de adopção pode nem sequer colocar-se durante o desenvolvimento, mas sim no caso de existir uma doença grave em que haja necessidade de se registar alterações significativas de caracter médico, em que as doenças hereditárias tenham de ser estudadas. Na realidade a resiliência da criança adoptada desde muito cedo, logo nos primeiros dias de vida pode não apresentar grandes alterações a nível psicológico, pois que tal como Freud referenciou as representações fundamentais irão ser dirigidas para os pais adoptivos. Sendo os pais adoptivos olhados como os únicos pais, pois que são as imagens de referência que a criança tem.
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